AINDA O FOLHETIM DE ALVALADE

Mais do que uma tentativa de imitar o Benfica (com Rui Costa), a escolha de Sá Pinto para director desportivo do Sporting foi a forma encontrada por José Eduardo Bettencourt para pacificar os adeptos, leia-se claques, leia-se Juventude Leonina.

Desde há muito que aquele grupo organizado tem excessivo peso no Sporting, e condiciona as suas opções ao mais alto nível. Recordemos, por exemplo, que a Juve Leo foi responsável pela não contratação de José Mourinho em 2001, quando o técnico tinha tudo acordado com Luís Duque para se transferir para Alvalade. Com assento em órgãos sociais e institucionais como o Conselho Leonino, com a confiança dada por dirigentes que frequentam as suas festas, a claque foi ganhando crescente protagonismo no dia a dia do Sporting, o que tem sido mais útil para a satisfação das ambições de poder dos seus lideres do que para qualquer outra coisa.
Sá Pinto sempre foi um jogador particularmente querido da claque, havendo rumores de que pagava generosamente aos seus líderes para o apoiarem (lembram-se das tarjas a exigir o seu regresso de Espanha?). Em larga medida terá sido esse apoio que transformou um jogador banal, um portista de pequenino, num ídolo do Sporting. Escolhendo-o para director desportivo, Bettencourt sabia que estaria a calar uma franja importante dos adeptos, comprando assim a tranquilidade que de alguma forma se foi vendo em Alvalade desde o dia da saída de Paulo Bento (homem que nunca terá dado à Juve Leo a atenção de que ela se achava credora). Esqueceu-se do mais importante: o balneário.
Está agora à vista de todos que a revolução de Novembro último não colheu simpatias entre os jogadores. Liedson é o caso mais visível, mas também Anderson Polga se envolveu com Sá Pinto, sem falar nos jogadores da formação, todos muito ligados a Paulo Bento (basta lembrar as declarações de João Moutinho, as lágrimas de Carriço, e agora o caso Rui Patrício, que certamente ficou mais amigo do luso-brasileiro do que do ex-director após a conturbada noite de quarta feira).
Ao promover uma mudança que agradava a um sector específico das bancadas, minoritário mas barulhento, subavaliando o equilíbrio de forças dentro da própria equipa, o presidente do Sporting privilegiou as aparências em detrimento duma realidade interna que mostrou desconhecer. Com a escolha de Sá Pinto, cometeu mais um erro, dos muitos que têm marcado este seu curto e instável mandato, sendo ele, indiscutivelmente, o responsável último e primeiro de tudo o que agora se passou.
Não tenho nada contra Bettencourt. A forma imbecil como Pinto da Costa fala dele nas escutas, e o facto de ser amigo pessoal de Luís Filipe Vieira, seriam até bons pontos de partida para as batalhas que o futebol português ainda tem de travar, designadamente em nome da transparência e do fim da velha teia de promiscuidade tecida a norte. O presidente do Sporting parece ser um homem sério e bem intencionado, e por isso lamento que demonstre tanta e tão reiterada falta de competência para as funções que desempenha.
Mas desde episódio fica também mais um claro exemplo dos perigos que uma deficiente abordagem às claques representa para os grandes clubes. Já tinha acontecido no FC Porto, acontece demasiadas vezes no Sporting, mas, felizmente, o Benfica tem permanecido imune.
Gosto das claques, aprecio muito as suas cores e os seus sons, e confesso que sem elas talvez me desse menos prazer ir ao futebol. Mas a última coisa que desejo é ver um dia uma qualquer claque influenciar decisões tomadas no meu clube, e por isso aprecio bastante a forma como, na Luz, elas têm sido postas no seu devido lugar – mesmo sabendo que, por esse motivo, os poucos resquícios de oposição interna, se é que se pode assim chamar-lhe, residem justamente no meio dos No Name Boys.

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