CANDIDATO...MAS POUCO

Finalista em 2004, semi-finalista no Mundial 2006, a selecção nacional apresenta-se neste Europeu com legítimas e naturais aspirações a um bom desempenho. O sorteio foi-lhe aparentemente favorável - até à final, Portugal não encontrará seguramente França, Itália, Holanda nem Espanha – e, muito pelo seu passado recente, não há analista ou publicação que não respeite a equipa de Scolari sempre que se fala em favoritismos.
Um Portugal ao nível do dos últimos quatro anos teria sem dúvida francas condições de, pelo menos, repetir os resultados dessas duas últimas campanhas. Mas estará esta selecção portuguesa ao nível da que disputou Euro 2004 e Mundial 2006 ? A meu ver não está.
Em 2004 Portugal, jogando em casa perante um inolvidável apoio do povo português, tinha para além de Deco, Ronaldo, Simão, Petit ou Ricardo Carvalho, ainda Figo, Pauleta, Fernando Couto, Rui Costa, Jorge Andrade, Costinha, Nuno Valente e Maniche. Era um super-plantel que daria para duas selecções quase ao mesmo nível, e que juntava duas diferentes gerações, uma das quais ainda com muito para dar (Figo e Pauleta ainda seriam titulares dois anos depois), e outra em clara ascensão (Cristiano Ronaldo já jogava, brilhava e marcava). Foi talvez a melhor selecção portuguesa de sempre, e ainda tinha a vantagem de ter o seu onze base assente na espinha dorsal do grande F.C.Porto de Mourinho, campeão europeu semanas antes.
No Mundial da Alemanha Portugal repetiu, grosso modo, os bons resultados, mas já não evidenciou o mesmo nível exibicional. Soube sofrer com a Holanda, foi feliz com a Inglaterra, caiu claramente diante da França e depois da Alemanha. Ainda assim mantinha intacto o onze tipo, dispunha na frente de ataque do seu melhor goleador de todos os tempos (Pauleta), e na asa direita do meio-campo do líder, capitão, “bola de ouro”, e jogador mais internacional de sempre do futebol português (Luís Figo).
A equipa portuguesa que estará na Suiça já pouco tem a ver com aquelas duas, mais de metade dos jogadores convocados não estiveram naquelas épicas competições e, sobretudo ao nível da sua estrutura base, a equipa sofreu fortes alterações: o meio-campo de Mourinho já não existe, a dupla de centrais será pouco menos que estreante, goleador não há, lateral esquerdo também não, e liderança nem por isso.
No meio de tudo isto resta contudo uma ilusão, ou uma esperança se assim quisermos antes chamar-lhe. O seu nome é Cristiano Ronaldo, é o melhor jogador do mundo da actualidade, e caso mantenha no Europeu os índices físicos que apresentou ao longo da temporada, justificará por si só à equipa de Scolari o rótulo de candidata. É nele que reside a esperança dos portugueses, é ele que pode fazer a diferença, é dele que pode partir o grito de vitória. Ronaldo é pois a peça chave das aspirações nacionais, e da sua performance dependerá em larga medida aquilo que Portugal possa trazer deste Europeu.
Na verdade, assumamo-lo, Portugal sem Cristiano Ronaldo seria uma equipa banal, e possivelmente nem sequer se teria qualificado – o madeirense, mesmo sem deslumbrar, rendeu um terço do total de golos da equipa nacional na fase de apuramento -, mas também sem Eusébio o Portugal de 1966 nada teria feito, sem Pele o Brasil não era penta-campeão do mundo, sem Maradona a Argentina não teria vencido o México 86, etc, etc. Por detrás de uma selecção campeã está normalmente sempre uma grande estrela, e isso, como se vê, é coisa que não falta à nossa equipa. Cristiano Ronaldo é português, joga na nossa selecção e faz parte dela, não tendo nós qualquer culpa disso.
É portanto conveniente que tanto os adeptos como, principalmente, os jogadores, tenham bem presente que aquilo que foi feito em 2004 e 2006 faz parte da história, e as condições de agora, como vimos, não são comparáveis às de então. Haverá necessidade de adoptar uma postura de humildade, que começa justamente por pensar, para já, somente e apenas em passar a primeira fase. Ao longo da prova se verá até onde pode chegar este Portugal, mas para chegar onde quer que seja, primeiro há que ultrapassar República Checa, Turquia e Suiça, ou pelo menos dois deles.
E não serão estes adversários ao nosso alcance ? Com certeza que são, como o eram também a Coreia, os Estados Unidos e a Polónia no Mundial 2002, quando Portugal era também apontado como um dos favoritos, e como o era também a Grécia, nosso verdugo no Europeu disputado em Portugal. A facilidade ou dificuldade deste ou daquele adversário mede-se, antes de mais, na forma como a selecção nacional for capaz de interiorizar as suas forças e fraquezas, e em campo melhor partido tirar de umas, e melhor conseguir disfarçar outras. O pior que pode acontecer é pensar de antemão em facilidades, que numa competição com estas características são altamente improváveis.
Estou em crer que Luiz Felipe Scolari, pelas provas que já deu em momentos de grande pressão, será capaz de fazer o grupo perceber aquilo que é, por agora, importante. Se assim acontecer, se Cristiano Ronaldo não desiludir, Portugal estará seguramente nos quartos-de-final. A partir daí, que seja a Nª Srª do Caravaggio a ditar as leis...

2 comentários:

RN disse...

Caro Senhor,

Dizer que a equipa de 2004-2006 era, provavelmente, a melhor de sempre, parece-me um claro exagero. Ainda há poucos dias estive a rever na Sporttv o Portugal-Inglaterra do Euro 2000 e, não tenho dúvidas, a equipa desse campeonato jogava muito mais à bola do que qualquer equipa posterior. Aliás, se bem se recorda - e estou certo que sim - o nosso percurso de então até às meias finais com a França foi absolutamente esmagador.

Cumprimentos!

LF disse...

Não discuto o que cada uma jogou no relvado.
Reconheço que a de 2000 praticou um futebol mais espectacular, e impôs-se com mais facilidade até às meias-finais.

Mas se compararmos os nomes do plantel de uma e outra selecção (2000 com 2004) teremos de concluir que a de 2004 tinha quase tudo o que a anterior tinha de melhor (Figos, Rui Costas, Pauletas, Fernandos Coutos, Nunos Gomes etc) e ainda lhe juntava mais Cristiano Ronaldo, Maniche, Deco, Ricardo Carvalho, Simão Sabrosa, Jorge Andrade, Petit etc.
Foi neste aspecto que incidiu a minha afirmação.